HEI DE VENCER PARA QUE E QUEM?
Há muitas décadas estudo J. Krishnamurti e Prentice Mulford. Os cinco
volumes de "Nossas Forças Mentais" foram meus amigos e confidentes
desde 18 anos de idade. Assim foi com "O Capital" de Karl Marx e “A
Família, a Propriedade Privada e o Estado” de Engels e ensinamentos de Paulo
Freire quando eu tinha 25 anos, meus mestres até sempre. Tudo isso atrelado à
grande espiritualidade de minha mãe, indígena e sacerdotisa na Rosa Cruz e toda
a herança indígena de minha avó, tias-avós, conhecedoras das ervas, tradição e
histórias.
Ao lado disso, meu pai, assassinado quando eu tinha apenas 6 anos, me
deixou um pequeno cartazete horizontal de 10 cm, pintado com "lápis de
cor" verde e amarelo escrito com lindas letras por ele mesmo desenhado: “HEI
DE VENCER". Paralelo a isso, claro, tive meus estudos na Escola Normal e
na UFRJ para a minha profissionalização com estudos específicos sobre
Filosofia, Psicologia da Educação entre outras disciplinas para a formação de
uma professora.
Hoje, depois de 70 anos, me perguntei " Hei de Vencer" para
que e para quem? Não existe "Hei de Vencer", papai Alberto, num país
que não consegue superar a fome, o desemprego e as questões de saúde, questões
básicas. A minha vitória deveria ser a vitória de todas as crianças brasileiras
em todas essas décadas. E não foi. Agora entramos em 2022.
Todo final e início de ano há uma manifestação de forças e energias
mentais para a transformação do velho em novo. Esse velho não deveria ser
trabalhado durante todos os 365 dias do ano? Porque só 24, 25, 31 de dezembro e
dia 1 de janeiro?
Muitos pensam que espiritualidade é aquilo formalizado em igrejas,
instituições religiosas, cerimônias, rezas, etc. A espiritualidade deve ser
exercida como um direito humano. A espiritualidade é SER: "EU SOU" em
todos os momentos e todos os dias da vida. Estar espiritualizado é estar
consciente de seu papel de cidadão todos os momentos no trem, nas ruas, nos
barcos, nas casas, nos tratamentos interpessoais, nos trabalhos... Aí a lista
não termina. Essa maravilhosa manifestação de amor nessas datas de final de ano
deveria continuar nos próximos doze meses.
Realmente há uma força e intensões extraordinárias se levada como
costume de vida, haja vista os objetivos da meditação, yoga e exercícios
físicos. Convido a vocês a manterem essa energia vital para os próximos meses
quando precisaremos eleger um novo presidente e enfrentar a Covid, variantes e
gripes.
Que se eleja o homem atrelado à essas energias, espiritualidade, forças, inspirações e ética para cambiar definitivamente esse país e não se iludam com contos de carochinhas que levam o indivíduo para o porão da vida. Esse porão conduz ao apagamento social e invisibilidade do povo. O sinal de alerta deve estar ligado 24 horas por dia para a vitória do povo.
Texto de Eliane Potiguara TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Eliane Potiguara é Doutora Honoris Cause pela UFRJ/2021, escritora,
poeta, professora e de origem indígena potiguara.
Instagram: @elianepotiguara
Foto: Ana Marina Coutinho/Dep.Com.UFRJ